O 1% mais rico da população mundial produziu tanta poluição em 2019 quanto cerca de 5 bilhões de pessoas (dois terços da humanidade), revela o relatório Igualdade Climática: Um Planeta para os 99%, lançado nesta segunda-feira (20/11) pela Oxfam às vésperas da Cúpula Climática na ONU (COP 28) em Dubai, entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro deste ano. Um dos temas centrais da COP 28 é a necessidade de manter a meta de 1,5°C no aumento da temperatura global para evitar um colapso climático.
Somente as descomunais emissões do 1% mais rico do mundo ocorridas em 2019, são suficientes para causar 1,3 milhão de mortes relacionadas ao calor entre 2020 e 2100.
“É inaceitável que o 1% mais rico continue liderando o mundo ladeira abaixo para um colapso planetário. E quem vem sofrendo o impacto dos danos dessa viagem é a maioria da população. São as bilhões de pessoas impactadas por enchentes, secas, perdas de território, aquecimento e baixa de temperatura desproporcional, problemas de saúde e pobreza”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.
“Durante anos a sociedade e a academia lutam para acabar com a era dos combustíveis fósseis para salvar milhões de vidas e nosso planeta. Está mais nítido do que nunca que isso será impossível enquanto houver riqueza extrema no mundo e enquanto os governos não cumprirem seus compromissos com uma sociedade sustentável”, afirma Katia Maia.
Mais ricos poluem mais
O relatório “Igualdade Climática: Um Planeta para os 99%” foi elaborado com dados do Stockholm Environment Institute – SEI (Instituto Ambiental de Estocolmo) e avalia os dados nacionais de emissões de consumo para 196 países de 1990 a 2019, do Global Carbon Atlas (Atlas Global de Carbono), que cobre quase 99% das emissões globais. Os dados de renda nacional e os números populacionais foram obtidos do Penn World Table (PWT) e do Banco Mundial.
O relatório mostra o contraste entre as pegadas de carbono do 1% mais rico – que têm muitos investimentos em indústrias poluentes e cujos estilos de vida resultam em grandes emissões de CO2, impulsionando assim o aquecimento global – e da maior parte da população do mundo.
- O 1% mais rico foi responsável por 16% das emissões globais de consumo em 2019 – mais do que todas as emissões de automóveis e transportes rodoviários. Já os 10% mais ricos responderam por metade das emissões.
- Levaria cerca de 1.500 anos para uma pessoa que está entre os 99% da população no mundo produzir tanto CO2 quanto os bilionários mais ricos produzem em um ano.
- Todos os anos, as emissões do 1% mais rico anulam a economia de carbono proveniente de quase um milhão de turbinas eólicas.
- Um imposto de 2% sobre a riqueza dos milionários, de 3% sobre aqueles com riqueza superior a 50 milhões de dólares e de 5% sobre os bilionários do mundo geraria 1,726 trilhão de dólares.
O colapso climático e as desigualdades têm relação direta. O impacto da crise climática é desigual, atingindo mais pessoas que vivem na pobreza, mulheres e meninas, pessoas negras, comunidades indígenas, comunidade quilombolas e tradicionais nos países do Sul Global. E esse impacto está agravando a desigualdade entre e dentro dos países.
Os governos podem enfrentar as crises das desigualdades e das mudanças climáticas, tributando os super-ricos, investindo em serviços públicos e cumprindo as metas climáticas. A Oxfam calcula que um imposto de 60% sobre a renda do 1% mais rico do mundo reduziria as emissões globais arrecadaria US$ 6,4 trilhões que poderiam ser utilizados para o enfrentamento da crise climática, financiando, entre outros, a transição energética a preparação para países e regiões que têm grande parte de sua população afetada.
“É preciso fazer a conexão entre o excesso de riqueza e o colapso climático. Está passando da hora dos super-ricos serem taxados mundialmente. Essa é uma forma de levantar recursos para enfrentar de maneira mais eficaz as mudanças climáticas e as desigualdades. E a sociedade deve se mobilizar e pressionar os governos para que essa taxação ocorra”, finaliza Katia Maia.
Recomendações da Oxfam para colocam os 99% – e a ação governamental dinâmica e ambiciosa – no comando das nossas economias para garantir três coisas:
Aumento radical da igualdade.
Os governos devem implementar políticas comprovadas para reduzir drasticamente a desigualdade e o fosso entre os mais ricos e o restante da população. Menores rendimentos e riqueza dos mais ricos reduzirá emissões. Sociedades economicamente mais igualitárias são vitais para enfrentar desigualdades como género, raça, religião e casta. Sociedades mais igualitárias são capazes de gerir os enormes riscos e impactos das condições meteorológicas extremas de forma mais eficaz e justa. Podem alcançar o consenso político necessário para uma transição rápida e permanente dos combustíveis fósseis e da redução do consumo excessivo dos privilegiados para uma vida melhor para todos.
Uma transição rápida e justa para longe dos combustíveis fósseis.
Os países ricos e poluentes, que têm a maior responsabilidade e capacidade para reduzir as emissões, devem eliminar rápido e gradualmente o uso dos combustíveis fósseis e cessar imediatamente a emissão de quaisquer novas licenças ou a permissão da expansão da exploração, extração ou processamento de carvão, petróleo e gás. Os governos devem implementar uma nova onda de impostos sobre as empresas e os super-ricos que lucraram com a pilhagem do nosso mundo, para reduzir as emissões de forma significativa e urgente e para financiar a transição. Trilhões de dólares provenientes destes novos impostos podem ser investidos em serviços públicos, tecnologias e bens concebidos para e pelos 99%, centrados especialmente nas mulheres, povos indígenas, pessoas negras e minorias que são mais impactados. Devem ser apoiadas as ações que construam um mundo mais justo e sustentável, como o fornecimento de energia renovável universal e acessível, habitação segura e eficiente em termos energéticos, transporte ferroviário de alta velocidade e outros transportes públicos ecológicos e acessíveis, proteção para todas as pessoas contra condições meteorológicas extremas, apoio à adaptação e por perdas e danos já sofridos.
Um novo propósito para uma nova era.
O atual sistema econômico, orientado para gerar uma riqueza cada vez maior para os já ricos nos está levando ao precipício. O foco no crescimento econômico de qualquer tipo e na extração e consumo excessivo sem fim e a qualquer custo tem de acabar. As pessoas e os seus governos devem voltar a ser responsáveis pelo seu destino. As nossas economias devem ser propositalmente redesenhadas e reimaginadas.